A primeira pergunta que devemos fazer é, o que é a adolescência e o que influência seus comportamentos?
Temos a tendência de enxergar os adolescentes como preguiçosos, do contra, malcriados, rebeldes, viciados em celular, aquele jovem que não ouve , não segue regras e geralmente tem falas monossilábicas.
Sim, e é isso mesmo que acontece, todos esses comportamentos são comuns na adolescência, mas não é por isso que não se deve impor regras e limites, e acima de tudo deixar que eles passem por frustrações e aprendam com elas.
Quando a adolescência inicia, o jovem começa a passar por um processo de amadurecimento do cérebro, que dura anos. Durante esse processo alguns comportamentos ficam mais evidentes:
- Correr riscos ( o adolescente passa a fazer coisas que nunca tinha feito antes, experimentar novas experiências )
- Buscar novidades
- Fazer amigos
Nosso cérebro é feito de neurônios e conforme vamos crescendo, eles vão se envolvendo em uma substância branca chamada de mielina. Essa substância, a tal da Mielina faz com que os neurônios se comuniquem 3 mil vezes mais rápido. Imagine que é como se você se comunica-se na internet pela rede sem fio e depois passe a usar a rede 5G. Todo esse processo acontece conforme vamos crescendo, ele se inicia quando nascemos na parte de trás do cérebro e na adolescência já se desenvolveu bastante, mas não terminou.
Resta ainda uma última parte, o córtex pré-frontal, justamente a parte do nosso cérebro que controla nosso pensamento racional, o raciocínio em si e é responsável pelo autocontrole.
Quando um adolescente tem que tomar uma decisão por exemplo, a comunicação dessa área do cérebro é muito mais lenta, justamente por causa do processo de Mielinização, aquela substância que faz os neurônios se comunicarem mais rápido, não estar completa. Esse processo irá terminar lá por volta dos 24 anos de idade.
Dessa forma, outras áreas do cérebro assumem o controle e uma delas senão a principal é a Amígdala. E não é a que você deve estar pensando que muita gente opera e tira, a amígdala gustativa. Estou falando de uma área do cérebro do tamanho de um feijão.
E justamente por essa região assumir a maior parte do controle que o comportamento do adolescente pode ser explicado. A amígdala é responsável pelas nossas emoções, tudo que o adolescente faz é muito intenso e como sua área responsável pelo autocontrole não esta completamente formada, ele acaba tomando atitudes de risco.
Para você entender melhor, a amígdala é responsável por sentirmos medo, felicidade, ansiedade e acaba decidindo se tal comportamento é bom ou ruim.
Mas não é só isso, muito estudos mostraram já que o adolescente consegue sim julgar os riscos, da mesma forma que um adulto. Mas se ele consegue fazer esse julgamento, por que muitas vezes faz a pior escolha?
Principalmente por que quando estão na presença de amigos, eles simplesmente ignoram os riscos, algumas áreas do cérebro ficam mais ativas, aquelas ligadas as recompensas e fazem com que eles tenham um pico de DOPAMINA.
A dopamina é um hormônio ligado a motivação, ela simplesmente joga você para fazer algo. Imagine se eu falasse para você que amanhã você tem de acordar super cedo para adiantar um projeto do seu trabalho, que você não está muito afim, consegue ver alguma recompensa nisso? Provavelmente não até tem, mas é mais difícil de se perceber de imediato. E se eu falasse que amanhã você tem de acordar cedo porque vai fazer uma viagem para o exterior em um local que você adora, com certeza seria muito mais fácil acordar cedo. E a dopamina explica isso, você fica mais motivado para acordar, porque seu cérebro prevê uma recompensa.
Durante a adolescência esse pico de dopamina é muito maior, e qualquer emoção ou experiência nova, uma festa, uma roupa nova, uma viagem tem uma sensação de empolgação enorme.
Uma outra mudança que acontece nessa fase é o senso de identidade.
O adolescente passa a se questionar quem ele é? Qual grupo pertence? Como deve se vestir? O que gosta e não gosta?
Esses questionamentos acontecem porque o jovem adolescente começa a ter uma sensação de ser observado e julgado constantemente.
Ao mesmo tempo ele passa a abrir mão de coisas que gostava quando criança, seja porque perde o interesse e começa a focar seus interesses em determinadas coias ou simplesmente porque não quer "pagar mico".
Ele começa a ter preocupação em:
- Ser mais popular
- Agradar mais pessoas (amigos e grupo )
- O que os outros estão pensando de mim?
Será que vão gostar de mim?
Com todas essas perguntas na cabeça e lembra daquela área que está no controle, a amígdala que é responsável pelas emoções, isso acaba gerando uma ansiedade enorme no adolescente.
E quando pensamos no aumento das redes sociais, a ansiedade dos adolescentes passou a ser muito maior, primeiro porque deixam de fazer atividades externas e ficam muito mais tempo em casa sozinhos, segundo porque acabam se comparando seus perfis com os de outros adolescentes e nas redes sociais podemos ser qualquer coisa, a auto cobrança se torna muito maior.
Na verdade tudo isso faz parte de um processo de especialização do cérebro do adolescente, preparando ele para a vida adulta. O cérebro tem um princípio de "use ou perca", muitas coisas vão sendo deixadas de lado e é normal, enquanto outras vão se tronando mais importantes.
A obsessão pelos colegas, correr riscos, buscar novidades, todas essas coisas fazem com que eles busquem novas experiências. Essas experiências fortalecem mais as conexões dos neurônios do cérebro.
E quando conseguimos enxergar o adolescente dessa forma, percebemos que o adulto deve ser o "córtex pré-frontal" do adolescente, seu auto controle, enquanto eles ainda estão se desenvolvendo, e todo esse processo é o que faz com que o jovem decida quem ele realmente quer ser.